Wednesday, January 30, 2013

Cinco perguntas para Paddy Kingsland

Paddy Kingsland e o EMS Synthi 100 (o Delaware)

Patrick "Paddy" Kingsland nasceu no dia 30 de janeiro de 1947 em Hampshire, Inglaterra. Na adolescência ele teve aulas de piano e ganhou sua primeira guitarra aos 15 anos de idade. Nesta mesma época ele construiu seu próprio amplificador valvulado e começou a tocar com a banda do colégio onde estudava. Paddy frequentou a Eggars Grammar School, na cidade de Alton (Hampshire) e, terminados seus estudos, ele passou a trabalhar na BBC, primeiramente como técnico em eletrônica até que, em 1970, ele teve a oportunidade de juntar-se ao BBC Radiophonic Workshop, o famoso departamento responsável por produzir as trilhas e efeitos sonoros para programas de rádio e TV da BBC. Paddy trabalhou lá por 11 anos e criou músicas para vários programas, incluindo os seriados "The Changes", "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy" e vários episódios de "Doctor Who"!

Mesmo depois de deixar o BBC Radiophonic Workshop em 1981, Paddy continuou a produzir música para alguns programas da BBC, inclusive para os documentários "Around the World in 80 Days" e "Pole to Pole" (ambos estrelados pelo ator Michael Palin, um dos fundadores do grupo Monty Python). Em 1982, Paddy decidiu montar seu próprio estúdio - PK Studios - que ele mantém até hoje.

Em 1973, a BBC Records lançou o álbum "Forth Dimension". Embora creditado ao BBC Radiophonic Workshop, o disco é o primeiro álbum solo lançado por Paddy Kingsland e inclui faixas gravadas por ele entre 1970 e 1973, utilizando proncipalmente os sintetizadores VCS3 e Synthi 100 (o Delaware), ambos fabricados pela EMS. Paddy lançou mais dois discos nos anos setenta, "Supercharged" e "Moogerama", e muitos outros álbuns de library music nos anos oitenta e noventa, principalmente pelo selo KPM. Muitas faixas gravadas por Paddy podem ser encontradas em coletâneas lançadas pela BBC Records!

Eu conheci e ouvi a música de Paddy Kingsland pela primeira vez durante minhas pesquisas sobre a Delia Derbyshire, a Daphne Oram e o BBC Radiophonic Workshop. No início de janeiro deste ano eu contatei ele (via o website do PK Studios) e prontamente tive meus emails respondidos por Paddy! Ele é um sujeito muito gentil e simpático e a música que ele cria, desde o tempo em que trabalhava na BBC, é supreendente! Hoje é aniversário de 66 anos de idade do Paddy, o que faz com que o fato de eu poder publicar esta entrevista nesta data seja muito especial! Feliz aniversário, Paddy, e muito obrigado pela entrevista!




ASTRONAUTA - Paddy, quais foram seus primeiros passos na música e quando você decidiu se tornar músico e compositor? Quando e como você passou a se interessar pela música eletrônica especificamente?

PADDY - Eu comecei tocando harmônica no ônibus, a caminho da escola, causando as mais variadas reações em quem escutava. Também tive as usuais aulas de piano até que eu ganhei uma guitarra usada, quando eu tinha 15 anos. Eu construí um amplificador valvulado e logo em seguida entrei numa banda da escola, onde tocavamos temas instrumentais como "Walk don't run" e, na sequência, mudamos para músicas do Chuck Berry. Quando eu trabalhava na BBC como técnico de estúdio eu costumava fazer experiências com tape loops e efeitos de eco. Eu tive a oportunidade de trabalhar no Radiophonic Workshop por uma semana - achei fabuloso e logo passei a trabalhar lá em tempo integral.

ASTRONAUTA - Você trabalhou no BBC Radiophonic Workshop por 11 anos (de 1970 a 1981). Quais eram os equipamentos e instrumentos que você tinha para criar suas músicas e efeitos sonoros naquela época?

Paddy com o Arp Odyssey
PADDY - Na época o Workshop tinha 4 estúdios, cada qual com um mixer mono e 4 gravadores de rolo. Existiam equipamentos que facilitavam o trabalho de lidar com os tapes loops e também algumas máquinas que permitiam variar a velocidade, mudando a afinação em semitons, para termos maior precisão. Haviam osciladores, daqueles tipo de laboratório, e uma bela caixa de acrílico, contendo um dispositivo que permitia selecionar, mecânica e sequencialmente, entre os sinais de entrada de áudio. Então existia um equipamento que tinha sido originalmente feito para prevenir ruidos no sistema de PA. Este equipamento fazia isso mudando a afinação em uns poucos ciclos. Nós usavamos isto para criar efeitos de fase e sons mais esquisitos ainda, mudando drásticamente a afinação. Existia também um gravador de fitas com cabeças rotatórias, que permitia mudar a afinação mantendo a velocidade da fita ou mesmo mudar a velocidade da fita mantendo a afinação - muito antes dos digital harmonizers, etc... O primeiro sintetizador chegou em 1970 - um EMS VCS3. Ele era bacana para aprender sobre controle de voltagem e gerar sons, mas não era legal para tocar músicas. O Arp Odyssey, que surgiu algum tempo depois, era bem melhor para isso.

ASTRONAUTA - Você chegou a ter a oportunidade de trabalhar com a Delia Derbyshire durate seu período no BBC Radiophonic Workshop? E você manteve contato com a Delia depois que ela deixou o BBC Radiophonic Workshop?

PADDY - Delia estava lá naquela época, ela era uma menina adorável e eu trabalhei bastante com ela e com Brian Hodgson. Delia era uma presença etérea no workshop, fazendo mágicas de todo o tipo para as produções de rádio e TV.
Os sintetizadores fizeram com que o processo de fazer música eletrônica ficasse muito mais rárpido, então tinha a pressão para produzirmos cada vez mais rápido, mesmo que não ficasse necessariamente bom. Delia ficava muito infeliz em ter que finalizar rápido toneladas de material, depois de tantos anos de liberdade para levar o tempo que precisasse para criar suas peças.
Some isso a alguns problemas pessoais e, como acontece com todos nós, pessoas jovens e bastante entusiasmadas chegando ao Workshop com novas idéias. Deve ter sido difícil para ela.
É uma pena que ela não tenha vivido para desfrutar do grande respeito pelo seu trabalho que existe hoje em dia.
Eu a vi uma ou outra vez depois que ela saiu do Workshop - ela era uma daquelas pessoas que você podia encontrar depois de anos e continuar exatamente de onde parou. A última ocasião foi no meu estúdio. Ela veio com um amigo da Daphne Oram, que queria transferir um disco com algumas músicas da Daphne para CD. Ela estava do mesmo jeito de sempre mas, infelizmente, não a vi mais depois disto.

ASTRONAUTA - Você poderia falar um pouco sobre o processo de gravação dos seus álbuns "Fourth Dimension" (1973), "Supercharged" (1974), "Moogerama" (1978) e sobre os discos que você gravou para a KPM Music Ltd.? Você pensa em relançar estes discos algum dia?

John Baker e Paddy Kingsland
com o EMS Synthi 100 (o Delaware)
PADDY - A intenção inicial era que "Fourth Dimension" tivesse um lado gravado por mim e outro lado por John Baker. John estava doente, então acabei gravando ambos os lados, refazendo temas que originalmente tinham apenas 30 segundos, como "Colour Radio", "Fourth Dimension", "Scene & Heard" e "Take Another Look". Eu gravei várias guitarras e contra-baixos, e tinha um baterista e um contra-baixista em algumas faixas. Eu usei um gravador de 8 pistas e 1/4 de polegada para fazer os overdubs. Eu utilizei o VCS3, o Synthi 100, o Arp Odyssey e também minha velha guitarra Telecaster. Tiveram mais 2 discos para a EMI, "Supercharged" e "Swag". Antes disso teve um single chamado "Spinball", que também foi gravado pelo flautista de jazz Herbie Mann. Ambos foram gravados nos estúdios Abbey Road, com músicos contratados. Eu gravei posteriormente as partes de sintetizador e as cordas e metais também foram adicionadas mais adiante. Nós colocamos alguns sintetizadores Arp e usamos alguns tape loops e efeitos de VCS3 na faixa "Wobbulator Rock". O falecido Richard de Sylva e eu trabalhamos juntos para fazer estas gravações.

"Moogerama" era um disco de library music, produzido por Syd Dale para a Amphonic Music, sua empresa que ainda está na ativa hoje em dia. Novamente gravamos com músicos contratados, nos estúdios Lansdowne e eu escrevi as partituras para eles, incluindo as partes de sintetizadores. Foi mais um disco de library music convencional do que um projeto de música eletrônica propriamente dito.

Os discos pela KPM ainda são utilizados hoje em dia, fico feliz em dizer, e a maioria deles foi gravado com músicos convencionais, tanto no meu estúdio quanto em outros locais.

ASTRONAUTA - Você fundou seu próprio estúdio - PK Studios - em 1982, certo? Você ainda utiliza sintetizadores e/ou efeitos analógicos em algumas de suas produções no PK Studios? Quais foram as mudanças nos equipamentos que você utiliza no PK Studios durantes todos estes anos?

PADDY - Fundei o PK Studios em 1982. Eu achei que estava na hora de sair e trabalhar com uma variedade maior de clientes. Eu acabei gravando comerciais, library music e projetos corporativos, enquanto ainda trabalhava para a BBC. Nos primeiros anos eu também acabei pegando trabalhos de gravação para ajudar a pagar o aluguel e estabelecer o local.
Eu queria mais espaço do que o que eu tinha no Workshop, e consegui isto montando uma sala de controle e um estúdio grandes o bastante para comportar 12 músicos.
Meu primeiro setup era um gravador Soundcraft de 24 pistas, com um mixer Soundcraft. Um cliente derramou suco de laranja sobre os faders na primeira sessão de gravação. Eu utilizava um sintetizador Arp e depois passei para um Roland Jupiter 8. Depois vieram o delays e o reverber da AMS e também o vocoder, o chorus, o phaser e o flanger da Roland. Uma bateria eletrônica Linn Drum chegou na sequência. Eu consegui um sincronizador Q lock logo em seguida, que me permitiu gravar direto em filmes com um gravador Umatic. Este equipamento era muito caro na época e muito complicado de utilizar. Mas era bacana demais poder gravar direto no filme e não ter que gravar posteriormente, quando já podia ser tarde demais. Eu costumava utilizar um Emulator I para o "Doctor Who". Logo depois eu consegui um dos primeiros gravadores Otari 90 MTR90 de 24 pistas. Isto agilizou bastate as coisas no que diz respeito á sincronia - o velho gravador Soundcraft demorava muito para sincronizar com o filme. Os Emulators II e III vieram a seguir, permitindo samplear e sequenciar com as filmagens. O próximo grande passo foi adquirir um Mac da Apple, com o software Performer e o Professional Composer, para registrar as partituras. Um dos primeiros gravadores de dois canais da Digidesign era divertido, mas o Radar de 24 pistas foi meu primeiro gravador em disco rígido propriamente dito. Então veio o Protools e adeus equipamentos externos e também o Mac 5, com todos os sons no disco rígido. Mas, como se sabe, não existe música sem antes existirem as idéias.




BBC Radiophonic Workshop Live
at the Roundhouse, London (May, 2009)

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